UM ATLAS DE BURACOS NEGROS
A fim de descobrir o mundo mágico e fantasmagórico dos buracos negros, vamos reunir nosso amigo Jules, o explorador de uma outra de suas viagens. Ele foi encarregado pelo diário O Universo e pela Sociedade Internacional de Exploradores para publicar notícias sobre “objetos celestiais oclusos.” Como de costume, seu amigo sedentário Jim será seu ponto de contacto na Terra. A fim de se manter em constante comunicação, Jules instalou a bordo de sua espaçonave uma câmera de televisão para constantemente enviar vídeos e sinais de som para Jim durante toda missão. Igualmente, Jim transmitirá notícias sem parar da Terra para Jules por meio de uma câmera montada em seu próprio quarto.
A primeira coisa que Jules tem a fazer é decidir sobre um destino. Ele consulta o Atlas de Buracos Negros, publicado pela Sociedade Internacional de Astrônomos. Um dos buracos negros mais interessantes é um que está em Centauro. Ele é também um dos mais próximos, cerca de oito anos luz da Terra. Ele é formado do remanescente estelar deixado após a morte explosiva, cerca de 5.000 anos a trás, de uma estrela 10 vezes mais massiva do que o Sol. Jules calcula que se ele viajar a 80 por cento da velocidade da luz, a viagem inteira levará vinte anos terrestres. Se ele sair no ano 2000, ele estará de volta em 2020, de acordo com o calendário da Terra. Naturalmente, devido as acelerações e desacelerações do foguete, ele envelhecerá somente 12 anos; seu calendário de bordo indicará 2012 quando ele retornar. Isso é totalmente razoável, na escala de uma vida humana.
Mas existem muitos outros candidatos no Atlas de Buracos Negros para picar a curiosidade de Jules. Por exemplo, existe um buraco negro em Sagitário, que os astrônomos descobriram no coração da Via Láctea, cerca de 30.000 anos luz da Terra. Este buraco negro é mais massivo, sendo equivalente a aproximadamente 3 milhões de Sóis. Acredita-se que resultou da coalescência de dezenas de milhares de pequenos buracos negros, estes mesmos o produto final da morte de uma multidão de estrelas massivas. Jules calcula em seu computador o tempo requerido para uma viagem ao centro da galáxia e retornar. Ele especifica as condições exigidas para a viagem: uma velocidade de cruzeiro muito alta, tão perto quanto possível da velocidade da luz, e uma aceleração ou desaceleração exatamente para recriar dentro da espaçonave a gravidade da Terra (tal aceleração ou desaceleração é chamada “1g”). O plano de vôo é o seguinte: Jules viajaria com uma aceleração constante de 1g até o ponto médio, então volveria o foguete e continuaria com uma desaceleração constante de 1g até o buraco negro. Com uma gravidade semelhante a da Terra na espaçonave, Jules sentiria como se ele nunca tivesse deixado a terra firme, que tornaria a viagem extremamente confortável. O computador faz os cálculos e exibe a resposta: A viagem levará 30.002 anos pelos padrões da Terra para atingir o destino, e a mesma duração para voltar. Mas como Jules estaria viajando numa velocidade média de 99,9997 por cento da velocidade da luz, a viagem duraria somente 20 anos do seu próprio ponto privilegiado.
Um outro buraco negro que atraiu a atenção de Jules está localizado no centro do quasar 3C273. Sua massa é mais de um bilhão de Sóis, e está cerca de 2 bilhões de anos luz da Terra, mil vezes mais longe do que a galáxia de Andrômeda, e muito além do superaglomerado de galáxias ao qual pertence a Via Láctea. Os quasares são partes do estranho e fascinante zôo da moderna astrofísica. Eles emitem uma quantidade fenomenal de energia que eles brilharem tão intensamente como as estrelas do primeiro plano do céu, mesmo que estejam localizados a enormes distâncias – bilhões da anos luz, quase tão distantes como a fronteira do universo conhecido. Portanto, o nome quasar, que é uma contração de quase-estrela. Esta fantástica energia, que é igual a de uma galáxia inteira que contém 100 bilhões de Sóis, é emitida num volume ligeiramente maior do que nosso próprio sistema solar. Os astrofísicos acreditam que esta enorme energia tem sua origem na glutonaria de um extremamente massivo buraco negro no centro de uma galáxia. Despedaçando e devorando as infelizes estrelas da galáxia hospedeira que se aventuram chegar bem mais perto, o buraco negro faz o quasar resplandecer com ofuscante brilho. O computador informa a Jules que, com uma aceleração e desaceleração imitando a gravidade da Terra a bordo da espaçonave, levaria 2 bilhões de anos terrestres para alcançar seu destino, mas somente 42 no seu próprio referencial de tempo. Tão fascinado como ele possa ser com o buraco negro em Sagitário e o 3C273, Jules deve ser realista. Se ele quer ver seu amigo Jim vivo ao concluir sua viagem, ele não pode se dar ao luxo de missões que exigem 60,000 anos terrestres, muito menos 4 bilhões. Na verdade, Jim podia tentar atrasar sua taxa de anos na Terra congelando seu corpo para hibernar, mas essa tecnologia não está ainda totalmente desenvolvida. Além disso, nesse caso, quem iria comunicar relatos das aventuras de Jules ao jornal O Universo? Jim podia deixar instruções a seus descendentes para cumprir sua tarefa, mas ele nunca podia estar certo que seus desejos fossem respeitados por eles. Isso resolveu a questão: O destino de Jules seria o buraco negro em Centauro.
domingo, 29 de junho de 2008
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