FORÇAS DE MARÉ ESTICAM SEU CORPO
Jules envelhece menos rapidamente que Jim, mas seu corpo paga muito caro por essa juventude prolongada. De fato, os efeitos gravitacionais do buraco negro sobre o seu corpo são extremamente desagradáveis. Na verdade, eles podem ser bem dolorosos. Á medida que ele desce em direção ao horizonte do buraco negro, Jules experimenta forças crescentemente fortes na cabeça e nos pés. Como seus pés estão mais próximos ao centro do buraco negro do que sua cabeça por seis pés – a altura de Jules – eles são afogados mais forçosamente em direção à singularidade. Estas diferenças no puxão gravitacional que atuam nas várias partes do corpo de Jules criam o que se chama uma “força de maré.” Isto é por analogia em relação a diferença na atração gravitacional exercida pela Lua nos oceanos e no centro da Terra, que dá origem às marés que fazem cair os castelos de areia deixados pelas crianças na praia. Cada um de nós que vive na Terra está sujeito a forças de maré similares, pois nossos pés estão mais próximos ao centro de planeta e portanto são mais atraídos fortemente a ele do que nossas cabeças. Se nós não sentimos desconforto como resultado disso, é porque o puxão gravitacional da Terra sobre nossos pés e cabeças varia por menos de uma parte em um milhão.
As coisas são bastante diferentes para nosso amigo Jules quando ele chega próximo ao horizonte do buraco negro. A diferença entre o puxão gravitacional em sua cabeça e pés aumenta inexoravelmente. As forças de marés exercidas pelo buraco negro tendem a esticá-lo como um fio de espaguete, e seu corpo está doendo cada vez mais. A uma distância de cerca de 13.000 km da superfície do horizonte, Jules experimenta uma força de maré equivalente a um quarto da gravidade da Terra; a 8.000 km, a força alcança 1g, e a 3000 km, 15g. Jules faz o melhor que pode para se pôr numa posição fetal, tentando colocar seus joelhos até sua cabeça, e fazer seu corpo tão pequeno quanto possível numa tentativa de contrabalançar as forças de maré (idealmente, se a cabeça e os pés de Jules pudessem imergir num simples ponto do espaço, e o tamanho do seu corpo pudesse encolher a zero, as forças de maré se anulariam). Mas é uma batalha perdida. As forças de maré são tão poderosas que elas forçam Jules a desenrolar suas pernas e seu corpo instantaneamente cai em oração ao assalto do arrasto do puxão gravitacional. Jules está em tal tormento que ele pode apenas ficar de pé. Ele decide retornar. Não há esperança para ele em algum tempo de alcançar a superfície do horizonte do buraco negro sem que seu corpo se despedace. Jules liga as máquinas de impulso da cápsula, a qual o coloca espiralando a uma órbita circular mais larga para eventualmente se encontrar com a espaçonave mãe.
sábado, 23 de agosto de 2008
terça-feira, 5 de agosto de 2008
TEMPO CONGELADO POR UM BURACO NEGRO
Deixando a espaçonave em órbita a uma distância segura de centenas de milhares de quilômetros do buraco negro, bem longe de sua garra, Jules se transfere para uma pequena cápsula especialmente desenhada para explorar a vizinhança da superfície do horizonte. Ele sabe que tem que proceder com extrema cautela. Uma manobra falsa, e ele pode terminar em queda livre em direção à boca gulosa do buraco negro, jamais para ser vista ou ter notícias dela novamente. Seu plano é se aproximar do horizonte numa espiral, dirigindo sua cápsula numa órbita circular crescentemente mais restrita. Para isso ele inicia uma série de pequenas freadas. A primeira delas amortece seu movimento orbital inicial suavemente – a primeira que a cápsula compartilhou inicialmente com a espaçonave – e lhe habilita mergulhar numa órbita circular mais baixa, mais próxima ao buraco negro. Com uma segunda leve freada, a órbita se torna ainda mais estreita, e assim por diante.
À medida que ele desce à superfície do horizonte do buraco negro, Jules permanece em contacto com seu amigão Jim na Terra. A princípio, ainda longe do buraco negro, tudo parece normal. O tempo flui na mesma taxa para ambos amigos. Jim pode verificar que também é assim vendo as imagens de TV do relógio de Jules dentro da cápsula espacial. Mas na medida que Jules fica cada vez mais próximo do buraco negro, os sinais que ele envia a Jim têm uma crescente dificuldade para ficar livre do espaço distorcido pela forte gravidade. Os sinais de rádio perdem cada vez mais energia para escapar da garra do buraco negro. As figuras enviadas por Jules se tornam menos freqüentes e são atualizadas menos ainda no monitor da televisão de Jim. Este tem a impressão nítida que o tempo de Jules está se atrasando cada vez mais. Para se barbear, Jules em princípio leva um minuto, depois uma hora, um dia, então um ano pelo calendário de Jim. Jules exibe a mesma desenvoltura juvenil, a mesma vibrante cabeleira negra, e a mesma face lisa, enquanto a velhice está causando estrago em Jim, seu cabelo se tornando branco, seu rosto sendo invadido por inumeráveis rugas. Até onde Jim pode dizer, tudo em relação a Jules procede a passo de cágado. Mesmo suas faculdades mentais parecem ter diminuídas. Leva uma eternidade para Jules tomar a menor decisão.
A percepção de Jules da situação não é diferente da de seu amigo. Ele também observa que o tempo de Jim flui muito mais rápido do que o seu. As imagens de televisão enviadas por Jim da Terra capturadas pela forte força de gravidade pelo buraco negro alcançam a cápsula espacial cada vez mais rápidas e são renovadas numa vertiginosa taxa na tela de bordo da espaçonave. Enquanto Jules gasta nada mais que alguns dias descendo em direção ao horizonte do buraco negro, ele observa Jim na tela comemorar seu quadragésimo, qüinquagésimo, sexagésimo, septuagésimo, etc, aniversário. Com um ar de tristeza e o coração triste, ele vê seu velho amigo se tornar cada vez menos alerta e com crescentes problemas de saúde. O tempo voa mais rápido para Jim do que para Jules porque a situação não é simétrica entre os dois amigos. Jules experimenta os efeitos gravitacionais desagradáveis do buraco negro, enquanto que na Terra, Jim está blindado deles.
Existem outras conseqüências do fato de que o tempo de Jules amortece. Quanto mais ele se aproxima do buraco negro, sua fala transmitida a Jim se alonga e sua voz se torna profunda e modulada, não diferente do som cavernoso que ouvimos no cinema quando o fita freia e o projetor range ao parar. Por outro lado, Jules não nota qualquer coisa de anormal. Do seu próprio ponto privilegiado, tudo parece decorrer normalmente. Ele envelhece na mesma taxa como antes, suas faculdades mentais estão afiadas, e sua voz mantém o mesmo tom. Ao contrário, é a voz de Jim que aparece grosseiramente distorcida. Ela se torna crescentemente aguda ao ponto de quase ferir seus ouvidos; as palavras se empilham a um passo tão rápido que elas se tornam incompreensíveis, semelhantes ao som de uma fita de áudio sendo avançada rapidamente.
Deixando a espaçonave em órbita a uma distância segura de centenas de milhares de quilômetros do buraco negro, bem longe de sua garra, Jules se transfere para uma pequena cápsula especialmente desenhada para explorar a vizinhança da superfície do horizonte. Ele sabe que tem que proceder com extrema cautela. Uma manobra falsa, e ele pode terminar em queda livre em direção à boca gulosa do buraco negro, jamais para ser vista ou ter notícias dela novamente. Seu plano é se aproximar do horizonte numa espiral, dirigindo sua cápsula numa órbita circular crescentemente mais restrita. Para isso ele inicia uma série de pequenas freadas. A primeira delas amortece seu movimento orbital inicial suavemente – a primeira que a cápsula compartilhou inicialmente com a espaçonave – e lhe habilita mergulhar numa órbita circular mais baixa, mais próxima ao buraco negro. Com uma segunda leve freada, a órbita se torna ainda mais estreita, e assim por diante.
À medida que ele desce à superfície do horizonte do buraco negro, Jules permanece em contacto com seu amigão Jim na Terra. A princípio, ainda longe do buraco negro, tudo parece normal. O tempo flui na mesma taxa para ambos amigos. Jim pode verificar que também é assim vendo as imagens de TV do relógio de Jules dentro da cápsula espacial. Mas na medida que Jules fica cada vez mais próximo do buraco negro, os sinais que ele envia a Jim têm uma crescente dificuldade para ficar livre do espaço distorcido pela forte gravidade. Os sinais de rádio perdem cada vez mais energia para escapar da garra do buraco negro. As figuras enviadas por Jules se tornam menos freqüentes e são atualizadas menos ainda no monitor da televisão de Jim. Este tem a impressão nítida que o tempo de Jules está se atrasando cada vez mais. Para se barbear, Jules em princípio leva um minuto, depois uma hora, um dia, então um ano pelo calendário de Jim. Jules exibe a mesma desenvoltura juvenil, a mesma vibrante cabeleira negra, e a mesma face lisa, enquanto a velhice está causando estrago em Jim, seu cabelo se tornando branco, seu rosto sendo invadido por inumeráveis rugas. Até onde Jim pode dizer, tudo em relação a Jules procede a passo de cágado. Mesmo suas faculdades mentais parecem ter diminuídas. Leva uma eternidade para Jules tomar a menor decisão.
A percepção de Jules da situação não é diferente da de seu amigo. Ele também observa que o tempo de Jim flui muito mais rápido do que o seu. As imagens de televisão enviadas por Jim da Terra capturadas pela forte força de gravidade pelo buraco negro alcançam a cápsula espacial cada vez mais rápidas e são renovadas numa vertiginosa taxa na tela de bordo da espaçonave. Enquanto Jules gasta nada mais que alguns dias descendo em direção ao horizonte do buraco negro, ele observa Jim na tela comemorar seu quadragésimo, qüinquagésimo, sexagésimo, septuagésimo, etc, aniversário. Com um ar de tristeza e o coração triste, ele vê seu velho amigo se tornar cada vez menos alerta e com crescentes problemas de saúde. O tempo voa mais rápido para Jim do que para Jules porque a situação não é simétrica entre os dois amigos. Jules experimenta os efeitos gravitacionais desagradáveis do buraco negro, enquanto que na Terra, Jim está blindado deles.
Existem outras conseqüências do fato de que o tempo de Jules amortece. Quanto mais ele se aproxima do buraco negro, sua fala transmitida a Jim se alonga e sua voz se torna profunda e modulada, não diferente do som cavernoso que ouvimos no cinema quando o fita freia e o projetor range ao parar. Por outro lado, Jules não nota qualquer coisa de anormal. Do seu próprio ponto privilegiado, tudo parece decorrer normalmente. Ele envelhece na mesma taxa como antes, suas faculdades mentais estão afiadas, e sua voz mantém o mesmo tom. Ao contrário, é a voz de Jim que aparece grosseiramente distorcida. Ela se torna crescentemente aguda ao ponto de quase ferir seus ouvidos; as palavras se empilham a um passo tão rápido que elas se tornam incompreensíveis, semelhantes ao som de uma fita de áudio sendo avançada rapidamente.
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